“Presença de blindados nas proximidades da unidade, tiroteio intenso e ouvimos, também, muitas bombas. Sem condições para funcionamento”. O relato é de um diretor de uma escola municipal do Rio de Janeiro no dia 19 de março de 2019, e está registrado no banco de dados internos da Secretaria Municipal de Educação da capital fluminense.


Uma pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que reuniu dados de tiroteios no Rio e informações passadas por diretores de escolas e cruzou com informações de avaliação do ensino básico, chegou a conclusão de que 74% das escolas cariocas tiveram pelo menos um tiroteio no seu entorno no ano de 2019.


O estudo usou como base alunos entre o 5º e o 9º anos em 2019 — período anterior à pandemia da Covid-19 — para tentar refletir a realidade dos estudantes, já que, a partir daí, o ensino presencial passou por mudanças.


De acordo com os pesquisadores, a exposição à violência gerou problemas no aprendizado dos estudantes. As escolas mais expostas à violência registraram, em média, 10 operações policiais no entorno ao longo do ano.


O estudo identificou 32 escolas com, pelo menos, seis operações policiais ao longo do ano e outras 37 cujos alunos não tiveram problemas de segurança. Os estudantes dos dois grupos tinham similaridades em diversas variáveis como os perfis socioeconômicos das famílias. Eles serviram como comparação para o estudo.


Os alunos mais novos são os que mais sofrem com o problema. Segundo cálculos realizados pelos responsáveis pelo estudo, os alunos do 5º ano do ensino fundamental que vivenciaram, pelo menos, seis operações policiais em um ano tiveram uma redução de cerca de 64% no aprendizado esperado de língua portuguesa. Em matemática, os efeitos foram mais devastadores: os estudantes não conseguiram absorver o conteúdo do ano letivo.


“Há o que poderíamos chamar de efeito psicológico negativo na trajetória individual e coletiva e familiar destas crianças e adolescentes. O primeiro lugar de proteção é a casa e o segundo é a escola”, afirmou Freitas.


A pesquisa contou com relatos fornecidos à Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME) por diretores das escolas de ensino fundamental sobre operações policiais que interferiram na rotina das suas unidades, além de informações do Instituto Fogo Cruzado. Também foram usados dados do Censo Escolar, do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Sistema de Gestão Acadêmica da Secretaria Estadual de Educação.


Com o cruzamento de dados, a pesquisa identificou 1.154 escolas da rede de ensino fundamental público do município afetadas por pelo menos um tiroteio com a presença de agentes de segurança ao longo do ano.


De acordo com os dados, 57% tiveram até 10 episódios de tiroteios em 2019 e 11% tiveram mais de 30 casos, sendo que quatro escolas, que representam 0,3% do total, concentraram 95 tiroteios no seu entorno em apenas 12 meses.


O banco de dados com informações reportadas pelos diretores das unidades sugere que, 295 escolas do Rio fecharam pelo menos um dia ao longo do ano letivo em função de operações policiais.


De acordo com os dados, cinco escolas concentram 20 ou mais operações policiais no seu entorno.

fonte: Estudo mostra que 74% das escolas do Rio tiveram pelo menos um tiroteio no entorno no ano de 2019 | Rio de Janeiro | G1 (globo.com)